Sobre as greves
Nivaldo Santana*
As longas greves dos bancários e dos trabalhadores dos Correios obtiveram grande visibilidade. A principal razão é a de que o setor de serviços, quando afetado, atinge direta e imediatamente a população. Todas as pessoas, de uma forma ou de outra, necessitam de serviços postais ou bancários para o seu dia-a-dia.
Como todo movimento político, também as greves, para obter êxito, precisam contar com legitimação social e força suficiente para arrancar do patronato as suas reivindicações. Com isso, a mobilização ampla das categorias precisa estar associada com o permanente diálogo com a população, para isolar a parte patronal.
Surge aí um primeiro problema: ao sentirem-se prejudicados em seus direitos de acesso aos serviços dos bancos e dos Correios, a população pode ser ganha pelo lado patronal, com a inestimável ajuda da mídia, e a considerar os grevistas responsáveis pelos transtornos que inevitavelmente a greve provoca.
A inteligência do movimento sindical, por isso, reside em analisar todo esse complexo de contraditórios interesses e perserverar na busca de novas e mais eficazes estratégias de enfrentamento com o patronato. Aí se inclui, também, a necessidade de contar com o mais amplo apoio político e social para suas lutas.
A greve é uma luta que explicita de forma clara e concreta os interesses de classe. Por isso, cada batalha tem uma dimensão mais ampla do que uma simples disputa econômica. Para o capital, trata-se de barrar os avanços sobre os seus lucros e, mais do que isso, serve de lição para dissuadir movimentos futuros.
Cada movimento paredista, por essa visão, deve sempre levar em conta o quadro político, as experiências passadas e os novos problemas que surgem. Como tudo na vida, também as formas de luta e de organização dos trabalhadores mudam. Eis um primeiro grande desafio a superado.
Mudanças políticas e econômicas, alterações nas formas de organização e gestão do trabalho, tudo isso forma o quadro em permanente modificação que cobra do movimento sindical atualizações permanentes. É preciso estar antenado para essas mudanças e não se limitar a repetir os mesmos procedimentos.
O modus operandi do movimento sindical tem uma longa tradição de enfrentamento do capital operando segundo os parâmetros do fordismo-taylorismo - grandes concentrações de trabalhadores em linhas de produção e/ou de montagem, imortalizadas por Charles Chaplin em seu antológico "Tempos Modernos".
Com o notável avanço tecnológico e a reestruturação produtiva e nos setores de serviços, os "tempos modernos" de Chaplin envelheceram. Unidades de trabalho menores e descentralizadas é o que predomina. Assim, as velhas respostas (os piquetes, por exemplo) já não dão conta de todos os novos desafios. Tudo isso é fácil constatar. Dito de outra forma, é fácil falar, difícil é fazer.
O patrão, privado ou público, só se mexe se setores essenciais ou os seus lucros forem afetados. Uma greve no metrô, por exemplo, dificilmente se arrasta por muitos dias porque os seus impactos são violentos . Em uma indústria, um dia de greve e o peso no lucro é claro. No caso dos bancários e trabalhadores dos correios, a natureza do trabalho e o impacto da greve tem outra dimensão.
Greves nessas áreas, no plano do ideal, deveriam ter três características essenciais: a) ser movimentos massivos e crescentes, b) atingir, logo no início, o centro nevrálgico de operação desses setores e c) ser do tipo "blitzkrieg", expressão militar alemã que significa "guerra relâmpago" para minar com o "inimigo".
Na vida real, no entanto, essas greves tendencialmente são muito longas, não afetam ou demoram a afetar as áreas estratégicas de operação e a amplitude do movimento não cresce (vide bancários). São problemas objetivos causados pelos avanços tecnológicos e pela informatização, que diminuem o papel do bancário em atividades básicas.
O fato é que mesmo com milhões de cartas e outros documentos postais não entregues, com a não realização de muitas operações bancárias, as empresas adotam a velha tática de vencer pelo cansaço, cercar os grevistas e lutar pela alteração da pauta de reivindicações.
A tática de cerco e aniquilamento começa com a ameaça de terrorismo econômico - desconto dos dias parados, ação que pode evoluir para as ameaças de demissões. Como ensina os manuais do patronato, o facão e o desconto nos salários (e a repressão policial como último recurso) são as armas para acabar com as greves.
Os movimentos reivindicatórios dos trabalhadores, essenciais para garantir a valorização do trabalho na luta atual por um projeto nacional de desenvolvimento, precisam descortinar e agregar novas formas de combate para derrotar essas manobras patronais, dando nova qualidade à greve associada a novas formas de luta.
Eis um tema fundamental para o sindicalismo classista debater. Ousar lutar, ousar vencer é uma bela palavra de ordem. É uma condição necessária para guiar nossas ações. A vida, todavia, parece indicar que o portfólio sindical precisa ser enriquecido.
*Nivaldo Santana é vice-presidente nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)
Fonte: Blog do Nivaldo Santana
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