Para aliados de Chávez, vitória mostra que "revolução" já pode caminhar com as próprias pernas
Dois meses depois da reeleição do presidente venezuelano, Hugo Chávez, com 54,42% dos votos contra 44,55% de Henrique Capriles, os candidatos do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) conquistaram 20 dos 23 Estados do país nas eleições regionais desse domingo (16/12). Mais do que uma vitória nas urnas, o chavismo enxerga o atual momento – especialmente delicado devido à doença do presidente – como uma ratificação do processo de transformação iniciado há 14 anos.
Além disso, a ausência do líder venezuelano na reta final da campanha indica, para os aliados de Chávez, que o processo nomeado como “Revolução Bolivariana” já demonstra que pode caminhar com as próprias pernas.
O vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse que as eleições ratificaram o projeto socialista. “O povo quer o programa da pátria”, afirmou. Segundo ele, a aliança opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática) “se dissolveu por causa de uma derrota acachapante; de derrota em derrota eles vêm perdendo espaço”. Para o chefe de campanha do PSUV, Jorge Rodríguez, a vitória significa que o mapa da Venezuela “foi pintado de vermelho”.
O deputado do PSUV Julio Chávez afirmou a Opera Mundi que o resultado “mostra o quão coerente tem sido o programa da pátria, ao mesmo tempo em que deixa claro o compromisso do povo venezuelano em seguir aprofundando a revolução”.
Segundo ele, a conquista dos 20 governos e a reeleição de Chávez são a “prova do nível de consciência política” da população venezuelana, “fiel aos valores e ideais” do processo revolucionário.
“A realidade é que os chavistas provaram que o movimento deles está institucionalizado o suficiente na sociedade venezuelana, pelo menos em um nível regional, e isso mesmo sem Chávez”, disse o cientista político Miguel Tinker Salas, professor de Estudos Latino-americanos na Universidade Pomona, em Claremont, Estado da Califórnia (EUA).
Chávez, de 58 anos, está em Cuba desde a semana passada, onde foi submetido à quarta cirurgia contra o câncer. Ele anunciou ao país em 8 de dezembro que a doença havia retornado.
Apesar disso, os candidatos do líder venezuelano conquistaram 20 governos estaduais, incluindo importantes redutos da oposição, como Zulia, principal produtor de petróleo, e Carabobo, zona industrial. Os opositores conseguiram manter os governos de apenas dois dos sete Estados que comandavam, Miranda e Lara; além disso, venceram as eleições no Estado de Amazonas.
Capriles conseguiu se reeleger com pouco mais de 40 mil votos de diferença sobre seu principal adversário, o ex-vice-presidente Elias Jaua, do PSUV. No Estado de Lara, onde fica Barquisimeto, quarta maior cidade do país, o vencedor foi Henri Falcón, um ex-militar que era aliado a Chávez, mas em 2008 passou para a oposição.
Oposição
O secretário-executivo da MUD, Ramón Guillermo Aveledo, afirmou nesta segunda-feira que a oposição deve analisar imediatamente o fraco desempenho nas eleições. “Todos os partidos devem refletir; é a nossa obrigação”. Para ele, o resultado “é consequência do que foi decidido em 8 de outubro”, em referência à vitória de Chávez.
Em discurso no “balcão do povo”, no Palácio de Miraflores, o presidente venezuelano chamou a oposição ao diálogo e pediu que respeitasse a vontade da população de seguir com o processo. "Queremos que eles (a oposição) exponham seus elementos para a abertura do diálogo, a convivência e a paz. Mas é necessário que esses dirigentes falem claro e demonstrem vontade de convivência", disse na época.
De acordo com Julio Chávez, essa porta continua aberta. “A oposição venezuelana manifesta incoerência quanto a seu discurso e programa e por isso perde. O resultado dessas eleições regionais é um indicativo de que esses setores se afastaram da realidade que vivem os venezuelanos”, opinou. “Isso não é motivo de alegria para nós. Para que exista um debate de alto nível, deve existir uma oposição coerente, unificada em torno de uma ideologia, que seja porta-voz de um projeto consistente”, sugeriu.
Fonte: Operamundi
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