sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Santa Maria na Sena Madureira?


Jefferson Tramontini*

Recentemente presenciamos a tragédia ocorrida na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que incendiou ceifando a vida de mais de 200 jovens. Após o ocorrido e a grande comoção que, naturalmente, se seguiu, uma onda de fiscalizações e novas legislações sobre casas de espetáculos tem tomado conta do país. Infelizmente foi preciso a dor de toda uma cidade, compartilhada por todo o Brasil, para que algo fosse feito para evitar que essa tragédia se repita.

Ao menos podemos crer que, daqui em diante, teremos mais seguranças nesses locais, onde as pessoas vão para se divertir. Mas será que é apenas em tais estabelecimentos que corremos riscos desse tipo? São inúmeros os locais em que grandes quantidades de pessoas frequentam sem se atentar para a segurança. São mercados, grandes lojas, estádios, shopping centers, igrejas, escolas, bancos, etc.

Em grande parte desses estabelecimentos, para proteger seus lucros, os proprietários instalam um sem número de impedimentos para a saída dos clientes. Em nossas escolas, o que se vê em regra, são estudantes e trabalhadores trancados como em uma cadeia, normalmente com pouca ou nenhuma proteção ou treinamento contra incêndios ou outros incidentes graves.

Tomaremos como exemplo da falta de atenção à segurança das pessoas um prédio localizado no centro de Fortaleza, capital do Ceará. O conhecido Edifício-Sede da Caixa Econômica Federal é um verdadeiro estudo de caso sobre segurança, ou melhor, sobre a falta dela.


Inúmeras foram até aqui as denúncias por parte do Sindicato dos Bancários do Ceará sobre a temeridade de se manter mais de 500 trabalhadores em uma edificação sem condições de segurança, porém, até aqui, pouco foi realmente feito para corrigir tais problemas.

Lembramos que tratamos da sede local não de qualquer entidade, mas de um banco que lucrou mais de R$ 5 bilhões em 2011 e, apenas nos primeiros nove meses de 2012, acumulou R$ 4,2 bilhões.

No prédio, localizado à rua Sena Madureira, são constantes as falhas nos parcos três elevadores que atendem seus dezoito andares. Diversos são os relatos de pessoas que ficam presas no interior deles. O sistema de ar condicionado apresenta problemas crônicos, deixando de funcionar de tempos em tempos. Os banheiros são dignos de um boteco mal cuidado e as faltas de água já não são surpresa para mais ninguém.

A unidade da Caixa possui bombeiros civis e Comissão de Prevenção de Acidentes (CIPA), mas as centenas de trabalhadores que lá cumprem suas jornadas todos os dias não possuem treinamento ou informação sobre combate a incêndios. As escadas, estreitas e mal iluminadas, até recentemente não tinham sequer corrimões e diversas de suas portas corta-fogo tem maçanetas quebradas ou simplesmente não fecham. Presume-se que os extintores estejam sempre com a validade em dia, porém, segundo informações, nenhuma gota d’água passa pelas tubulações dos hidrantes e sprinklers. Além disso trata-se de um local com milhares de equipamentos elétricos e toneladas de material inflamável.

Até o presente a Caixa Econômica Federal tem se limitado a respostas protocolares e a reformas estéticas. A única “grande” mudança foi a tardia instalação de catracas para permitir apenas a pessoas autorizadas o acesso às dependências.

Em quantas outras unidades de grandes empresas os trabalhadores são diariamente expostos a condições insalubres e a riscos inexplicáveis de segurança? E o que os órgãos de fiscalização das prefeituras, estados, e mesmo as superintendências do trabalho tem feito a respeito?

Será necessária outra tragédia para que providências sejam tomadas? Quantos bancários, terceirizados, estagiários, aprendizes e clientes terão de sofrer as consequências de um desastre para que, finalmente, sejam solucionadas as graves deficiências de segurança do Edifício-Sede da Caixa no Ceará?

Ficaremos na torcida para que uma nova tragédia não aconteça. Para que não tenhamos mais que nos solidarizar à dor de famílias que perderam seus entes queridos pela ganância ou descaso de alguns.

Mas não em silêncio. Os trabalhadores e sindicatos devem denunciar tais mazelas e lutar, de todas as formas, para que novas tragédias não comovam a todos e, somente assim, sejam tomadas medidas necessárias e urgentes.

*Jefferson Tramontini é diretor do Sindicato dos Bancários do Ceará, membro da Coordenação Nacional dos Bancários Classistas (CTB) e autor do blog Classista.

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