terça-feira, 3 de setembro de 2013

A atual tática:O dilema da estratégia do PCdoB



Daniel Sebastiani*

O PCdoB tem trabalhado na perspectiva de um longo processo de transição do capitalismo para o socialismo no Brasil, que passa pelo aprofundamento das mudanças desenvolvidas, no atual quadro, pelos governos progressistas de Lula e Dilma, oriundos das urnas, na perspectiva de implementar um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento no rumo do Socialismo.

O nó górdio desta política está no fato de que a possibilidade concreta deste avanço, (que procura aprofundar e radicalizar, mantendo a máxima amplitude política possível em cada cenário), depende do crescimento da força política revolucionária mais consequente: o Partido Comunista.
Para que isto seja viável, além das medidas políticas e organizativas que permitam crescer na institucionalidade, no movimento de massas e na luta de ideias, é necessário ocupar o espaço político singular que cabe ao PCdoB.

Este espaço político é a expressão dos interesses políticos das classes e segmentos que podem objetivamente se identificar com o Programa do Partido mais do que com qualquer outro.

Nesta medida, entende-se como espaço do PCdoB aquele que está situado entre os interesses reformistas, que procuram desenvolver um processo de caráter nacionalista/distributivo, sem mudanças profundas que levem a rupturas estruturais com a sociedade capitalista, e os setores ultrarrevolucionários que procuram construir uma ruptura imediata e completa das estruturas, sem clareza quanto ao que se quer alcançar com estas rupturas, para onde levam e sua viabilidade.

Pode-se dizer que os interesses estratégicos do Partido Comunista estão, na objetividade social, entre os segmentos das camadas médias mais e menos radicalizados em termos progressistas, o que é natural, uma vez que representa os trabalhadores, conforme análises já feitas por Marx e marxistas sobre as camadas médias.

A dificuldade está em dar expressão política a este lócus político, ou seja, a efeitos das transformações que estão sendo feitas já existe um grande partido, o PT, e outros que reivindicam essas ações, em termos do combate radicalizado pela esquerda às mesmas, também temos o Psol e outras forças.

No entanto, o PCdoB tem objetivos de futuro que não tem como se transformar em políticas concretas em função da atual correlação de forças na luta de classes. 

Políticas relevantes foram formuladas, nesse cenário, para tentar individualizar a ação do Partido e ocupar o seu lócus:

•A luta contra os juros, sem romper com o governo;

•A luta pelo controle do mercado financeiro e o câmbio, sem romper com o governo;

•O combate ao monopólio da imprensa, sem romper com o governo;

•A tentativa de construir uma central menos governista e mais associada as ideias de luta social e do desenvolvimentismo, sem romper com o governo, a CTB, talvez a mais bem sucedida de todas essas políticas;

•A defesa da construção de um núcleo estratégico de esquerda, junto ao Governo, com as forças mais comprometidas com o aprofundamento das mudanças;Etc.

O problema é que a ocupação dos espaços não se dá pela ideia, mas pelo fato político-histórico.

Constitui o fato na história, sem dúvida, a propaganda e ação feita em torno das bandeiras políticas no seu mais alto grau.

Qual o mais alto grau hoje na disputa: as ações institucionais, de massas e a luta de ideias.

A institucionalidade cumpre, nesta quadra, papel de particular importância e qual a marca, para as grandes massas, do PCdoB na mesma......o voto na reforma da previdência, a Copa, as Olimpíadas e o Código Florestal!!!!!!!

Isto, somado ao ecletismo das alianças, (não confundir com amplitude), mal compreendido pelos eleitores e à pasteurização marqueteira da propaganda do Partido, cria um quadro que afasta o Partido da condição de instrumento que conscientiza através da sua política, traduzida em fatos, e capitaliza politicamente através destes fatos a concretude do corpo social que lhe cabe na luta de classes

Estes fatos políticos-históricos garantem uma ocupação concreta do Partido Comunista do seu lócus político nacional?! Qual deles diferencia o PCdoB do PT, do PDT ou do PSB?! Qualquer um destes poderia capitanear estas políticas e práxis eleitorais!

O PCdoB vem desenhando uma tática acertada, mas encontra dificuldade para criar os fatos políticos que a individualizem na concretude histórica e, entre outros problemas, abre, assim, flanco para o crescimento de forças esquerdistas pela sua esquerda.

É desnecessário dizer que este artigo não pretende a análise rebaixada que desconsidera que os espaços e terrenos de luta, assim como os métodos, não estão à disposição do bel prazer do Partido Comunista e que os quadros partidários, atores desses momentos, não têm outra responsabilidade que não seja o mérito de suas habilidades e a firmeza de sua disciplina.

Não simplificar e pessoalizar a análise da macro política deveria ser a atitude óbvia de qualquer analista, mas nunca é demais explicitá-la.

O que se afirma é que é preciso enquadrar mais claramente as ações do PCdoB, sobretudo na esfera institucional, a sua necessidade tática, forçando com mais critério as escolhas dos espaços de governo, aliados eleitorais, focos de campanha, numa perspectiva que, sem abandonar a concepção da imperiosa necessidade de acumulação de forças, particularmente no campo institucional, consiga realizá-la numa perspectiva que priorize o médio e longo prazo no sentido da sua individualização enquanto força política e da ligação as classes/segmentos sociais de seu interesse.

Neste aspecto a ação no movimento de massas, sobretudo sindical, deve ser mais efetiva e ousada, jamais se subordinando as necessidades imediatas e aparentes da busca de espaço institucional.

*Daniel V. Sebastiani é Secretário de Formação do PCdoB- RS.


ARTIGO ORIGINALMENTE PUBLICADO NA TRIBUNA DE DEBATES DO 13° CONGRESSO DO PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PCdoB)

Fonte: PCdoB

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