1º DE MAIO: DIA DO TRABALHO OU DO TRABALHADOR?
Há algum tempo temos visto um crescimento sem precedentes de referências ao dia 1º de maio como “dia do trabalho”, tanto na imprensa, em agendas oficiais e até mesmo na marcação de calendários ao referir-se à razão do feriado.
Não raro, inclusive, vemos alguns apresentadores de televisão, jornais e rádio, comentaristas, políticos e palpiteiros em geral, fazendo piada sobre “o dia do trabalho” ser feriado. E também não raro, vemos esses mesmos fazendo piada sobre “o brasileiro não querer trabalhar nem mesmo no ‘dia do trabalho’.”.
De outro lado, vemos o cada vez mais despolitizado e esvaziado movimento sindical brasileiro deixar de lado as tradicionais manifestações dessa data, substituindo-as por festas com patrocinadores privados, ou fazendo precárias, esvaziadas e escassas manifestações, sempre em lugares escondidos, deixando de apontar ao grande público essa data como tendo algum outro significado.
Isso nos leva à pergunta título desse texto: é dia do trabalho, ou do trabalhador?
O momento histórico que marca a data de 1º de maio ocorre na cidade de Chicago, maior centro industrial dos Estados Unidos, no ano de 1886.
Naquele tempo os trabalhadores estadunidenses eram submetidos a um regime de trabalho sem qualquer tipo de garantia, com jornadas de 16 horas diárias. E foi essa a razão que levou milhares de trabalhadores às ruas naquele 1886, em grandes manifestações, organizadas no final de abril realizadas a partir de 1º de maio.
A principal reivindicação dos manifestantes era a redução da jornada de trabalho das 16, para 8 horas diárias, o que era visto com grande reprovação pelos empresários e pelo governo, que consideravam um absurdo querer retirar das fábricas metade de sua produtividade, tornando o custo das empresas impraticável.
Aquelas manifestações nas ruas de Chicago foram violentamente reprimidas pelo aparato oficial, tendo a polícia assassinado, oficialmente, 12 trabalhadores. Ao final do ciclo de manifestações, somou-se a esse trágico saldo centenas de feridos e, sobretudo, 5 trabalhadores, tidos como líderes daquele movimento, enforcados.
Estima-se, no entanto, que além dos 12 executados e 5 enforcados, dezenas de outros trabalhadores tenham sido mortos nos confrontos com a polícia. Mas suas mortes jamais foram reconhecidas oficialmente.
Essa série de assassinato de trabalhadores que lutavam pela redução da jornada de trabalho e melhoria de suas condições laborais levou, em 20 de junho de
Como fruto dessas mobilizações, já em 1890 o Senado estadunidense termina por aprovar a lei de redução da jornada de trabalho, instituindo a jornada de 8 horas diárias. No entanto, a história do 1º de maio ainda continuava pelo mundo.
Em 1891, na manifestação convocada pela Segunda Internacional Socialista, no 1º de maio na França, a reação policial é de extrema violência. Resultado da violência do Estado contra a manifestação foi a morte de pelo menos 10 manifestantes, o que acaba por reforçar a data como dia internacional de mobilização dos trabalhadores.
Nesse rumo, o 1º de maio como data de luta ganha força em todo o mundo, marcado por numerosas e grandes manifestações de luta por melhoria nas condições de trabalho, melhoria nos salários e redução da jornada de trabalho.
Esse histórico de mobilizações levou, apenas em 1919, o Senado francês a retificar a jornada de trabalho de 8 horas. No mesmo ato, o Senado francês institui o 1º de maio desse ano como feriado.
Mas foi apenas em 1920, na recém nascida da revolução operária, União Soviética, que o 1º de maio é instituído como feriado nacional todos os anos.
Nesse tempo, e também até anos mais tarde, o 1º de maio foi marcado por diversas manifestações e milhares de trabalhadores assassinados em todo o mundo, inclusive no Brasil, a partir da primeira greve geral, em 1917.
Hoje, o 1º de maio é reconhecido em quase todos os países do mundo como feriado internacional, em homenagem ao Dia do Trabalhador, homenagem a todos aqueles que lutaram e morreram nas lutas pela redução da jornada de trabalho, melhoria das condições laborais e salários dignos. Tal reconhecimento é feito inclusive pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), em decisão ratificada por quase todos os países do globo.
Dois dos poucos países cujos governos não reconhecem o 1º de maio como dia do trabalhador são Estados Unidos e Austrália. O primeiro porque se recusa a reconhecer a arbitrariedade e a violência de seus atos em 1886, bem como a legitimidade daquele movimento. O segundo, porque tem a homenagem ao trabalhador em diferentes datas, variando em diversas regiões do país, por diversas razões locais.
Por essa razão, deixar de reconhecer o 1º de maio como Dia do Trabalhador, chamando-o de “Dia do Trabalho”, é como tornar a assassinar, desta vez a alma e a memória, de todos aqueles que lutaram e morreram, para que hoje os trabalhadores pudessem ter um pouco de dignidade e uma jornada de trabalho um pouco menos desumana.
1º de maio é Dia do Trabalhador. Que disser o contrário está a cometer um verdadeiro crime contra a humanidade.
Fonte: Pensamento Crítico
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