sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O universo curvo dum revolucionário


Quando a miséria se multiplica e a esperança foge do coração dos homens, somente fica a Revolução Niemeyer
Laura Bécquer Paseiro

Niemeyer e Fidel
A curva livre e sensual o definiu como arquiteto. A paixão pelos mais humildes, como revolucionário. O arquiteto Oscar Niemeyer Soares Filho, falecido quarta-feira, 5 de dezembro, aos 104 anos de idade, fez do seu Brasil um país de sonho, e da América Latina, seu reino.

Projetou, como os contornos de seus prédios, grande parte da identidade nacional brasileira e latino-americana.

Em 1940, conheceu o prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, que o convidou para projetar uma igreja e um cassino, à beira do lago de Pampulha. Em 1956 é convidado para trabalhar no que seria sua criação mais significativa e completa: a cidade de Brasília, capital federal do Brasil, que projetou junto com seu colega, Lúcio Costa. Sendo o início dum estilo que o colocaria à vanguarda da arquitetura moderna, e na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do betão.

Sobre sua obra, diria: "Não é o ângulo reto o que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que me encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso de seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito o universo todo, o universo curvo de Einstein".

Sobre esta fascinação do artista, o escritor Eduardo Galeano assinalou: "Niemeyer odeia o capitalismo e o ângulo reto. Contra o imperialismo não pode fazer muito. Mas contra o ângulo reto, opressor do espaço, triunfa sua arquitetura livre e sensual e leve como as nuvens".

Contudo, esta lenda da arquitetura considerou que sua maior obra foi entrar para o Partido Comunista do Brasil, que fundou com Luis Carlos Prestes. Quando em 1964 foi instaurada a ditadura militar no Brasil, seu escritório em Rio foi invadido e saqueado e seus projetos rejeitados. No exílio, na Europa, iniciou uma nova etapa de sua vida e obra. Niemeyer voltou a viver definitivamente no Brasil no início dos anos 80, após a abertura política.

O imperialismo não perdoa a Cuba nem a Fidel
 
Especial foi também sua amizade com Fidel Castro e a Revolução cubana. Sobre o processo indicou que nosso país "sempre soube transformar os reversos em vitórias" .

Obra de Niemeyer dedicada à
resistência da Revolução cubana
Tal foi sua admiração pela luta da Revolução, que um de seus últimos trabalhos, localizado na praça central da Universidade das Ciências Informáticas de Havana, representa um monumento contra o bloqueio econômico a Cuba.

Com formas ovaladas em aço e olhando para o céu, a escultura consiste num monstro de boca aberta e um cubano, com a bandeira na mão, enfrentando-o. A obra semelha uma sorte de David frente a Golias, como símbolo da resistência cubana.

Fidel, numa carta de agradecimento, expressou sua convicção de que o projeto seria "um reflexo das idéias que compartilham e pelas quais sempre têm lutado".

Incrivelmente lúcido aos 104 anos de idade, Niemeyer deixou este mundo para morar definitivamente na lenda. Com certeza, não descansará, não poderia fazê-lo até não se desentranhar a última curva deste universo. 

Fonte: Granma


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