quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Ano novo, presidente nova, medidas velhas

J. Tramontini*

Passado pouco mais de um mês da posse do novo governo, eleito pelos brasileiros para aprofundar as transformações iniciadas no anterior, o que temos presenciado é um festival de retrocessos.

A lista é grande, apesar do pouco tempo. Vai da nova alta dos juros até o congelamento do diálogo com as centrais sindicais. No último dia nove de fevereiro, após anunciar um corte de R$50 bilhões no orçamento, o governo eleito com um programa popular, foi elogiado pelo oligopólio da comunicação. Os mesmos que passaram a campanha criando factóides para derrotar a candidata Dilma têm se esmerarado nos adjetivos para convencer os desatentos de que o governo, ao qual eles são oposição ferrenha, está no caminho certo.

No último 9 de fevereiro, os telespectadores foram brindados com as absurdas palavras de um anacrônico comentarista de telejornal noturno rasgando elogios a Dilma e contrapondo-a a Lula. Sinal claro de que algo está muito errado.


A próxima grande batalha será em torno do novo valor do salário mínimo. Durante o governo Lula, em acordo com as centrais sindicais, foi estabelecida uma política de reajuste permanente, com objetivo de ampliar, paulatinamente, seu valor. Os reajustes anuais passaram a ser calculados segundo a inflação do ano anterior somada a variação do Produto Interno Bruto de dois anos antes.

O problema atual encontra-se no fato do PIB brasileiro ter variado negativamente em 2009, por conseqüência da grande crise internacional, o que reduz drasticamente o índice de reajuste para 2011. Com isso, segundo o cálculo inicial, o salário mínimo sofreria um acréscimo de míseros R$30. A então presidente eleita Dilma havia se pronunciado no sentido de negociar um reajuste maior. O que mudou após a posse?

A política de valorização do salário mínimo foi, durante o último período, comprovadamente, a mais eficiente e duradoura medida de distribuição de renda, fator essencial para o Brasil escapar precocemente da crise que ainda perdura nos países ditos desenvolvidos.

Uma das marcas da campanha que elegeu Dilma foi o seu combate à idéia recessiva de ajuste fiscal. Segundo a candidata, o Brasil não necessitava de uma política desse tipo, pois o crescimento econômico era consistente e um ajuste assim penalizaria apenas os mais pobres.

Passados apenas alguns meses algo mudou radicalmente, pois o novo governo implementa exatamente as medidas de um ajuste aos moldes do neoliberalismo derrotado. Os já elevados juros da taxa básica brasileira, a SELIC, subiram a obscenos 11,25% ao ano. O corte de R$50 bilhões, segundo anunciado, deve atingir todas as áreas, o que afetaria, entre outras, a educação e a saúde públicas.

Os argumentos apresentados são, curiosamente, os mesmos que, por tanto tempo, nos foram bombardeados como verdades absolutas. No entanto, o povo brasileiro derrotou todos esses argumentos em 2002, quando elegeu Lula, tornou a derrotar em 2006, quando Lula foi reeleito, e mais uma vez em 2010, quando foi eleita a sucessora de Lula.

E porque essa brusca mudança de rumos, já no início do novo governo? Ao que parece, as forças contra as quais o povo votou ainda têm mais poder do que o esperado. Mas as forças populares e progressistas também ampliaram suas capacidades nos últimos anos. Resta saber quem vencerá a queda de braço.

Nessa primeira batalha em torno do salário mínimo, as centrais sindicais e os movimentos sociais prometem mobilizações e galerias lotadas, no Congresso Nacional, durante as votações. Demonstração inconteste do povo trabalhador de que quer continuar melhorando suas condições de vida.

O sucesso do governo Dilma não se dará pelos afagos à imprensa golpista ou aos nervosos mercados que têm arrasado a economia mundial, mas sim pelo cumprimento do programa político que foi eleito no último outubro.

*J. Tramontini é membro da Coordenação Nacional dos Bancários Classistas, da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB


1 comentários:

JFSN disse...

Prezado companheiro, o meu comentário não tem e tem tudo a ver com o seu artigo. Envio porque esta em cima da hora, vão votar sobre isso na semana que vem.
"Salário Mínimo de R$ 545,00 é vergonhoso para o PT na conjuntura financeira do Brasil atual."
Opressão maior do que a escravidão não existe, e no Brasil, uma delas tem nome: Fidelidade Partidária, ou seria, Cale a boca companheiro! Neste caso eu complementaria, não lute por melhores salários ao povo não!
Não bastasse a repressão aos parlamentares com a constante ameaça da perca de prestígio junto ao comando do partido, ou seja, de força política, o pouco que lhes resta. Ainda temos a fidelidade partidária para amordaçar ainda mais os nossos parlamentares.
Paradoxalmente assistimos o PT “partido dos trabalhadores” ameaçando seus companheiros. Ou se calam ou serão considerados dissidentes. Para que eles votem contra o povo brasileiro, por um salário mínimo abaixo do que a nação pode e deve lhes pagar.
O Brasil colhe hoje, frutos de décadas de investimento e luta de seu povo, não é de administração do PT não, isto vem desde a expansão das lavouras e criação de gado pelo interior do país, a até a construção de usinas hidrelétricas como Itaipu e Angras, à industrialização dos grandes centros e à exploração e comercialização de petróleo pela Petrobras, com inclusive o próprio pré-sal vindo de tempos antes do governo do PT. Tudo como resultado de mais de meio século de sacrifício da população mais carente, para que pudessem serem feitos os investimentos e políticas voltadas ao desenvolvimento de nossa nação.
Está na hora do povo, igualmente ao que aos banqueiros e mega-industriais é farto, provar o gosto desta vitória. Salário mínimo de R$ 545,00 na atual conjuntura, é inadmissível. Aliás, abaixo de R$ 600,00 para início de conversa, é vergonha, para o PT. Digo isso porque sou de esquerda, considerando que esquerda é lutar pelo benefício do povo, não só de banqueiros e mega-industriais. Aonde estão os companheiros do PSOL, PC do B, PCB, PMDB e etc. Vamos erguer as nossas vozes em favor dos trabalhadores desta nação.
A que conclusão isto nos leva? Que só se fará uma verdadeira reforma política neste país, se começarmos com a extinção desta lei opressora que amordaça nossos políticos, a lei da Fidelidade Partidária.
José Fonte de Santa Ana.

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