domingo, 17 de abril de 2016

O despertar do povo contra mais um golpe da Casa Grande

J. Tramontini*

A história do Brasil é recheada de golpes, contragolpes e golpes dentro de golpes. Sempre acordos da elite retrógrada que grassa essas terras para concentrar poder e dinheiro, excluindo qualquer cheiro de povo da decisão sobre os rumos da nação.

Desde o império, com as peripécias dos dons Pedros, na independência, na abdicação, na regência. Depois o golpe que proclamou a república tupiniquim, um arranjo de militares e latifundiários onde o povo nem sabia o que ocorria. A chamada república do café com leite, quando barões de São Paulo e Minas Gerais se revezavam no governo central, sem povo e mesmo sem outros extratos elitistas.
A revolução de 1930, que representou o golpe de uma elite, podemos dizer, mais moderna e que, com Getulio, criou a base de uma industrialização tardia, mas que nos molda até hoje, em muitos aspectos. O Estado Novo getulista, para concentrar ainda mais poder até a própria deposição de Vargas. O cerco e ataques a Getulio por parte da mesma elite de sempre, que antes o apoiara como ditador, mas passou a rejeitá-lo quando se elegeu pelo voto popular e contrariou interesses poderosos internos e externos, como quando da criação da Petrobras. O suicídio de Getulio, que atrasou o golpe militar que se encontrava em curso quando as ruas foram tomadas pelo povo trabalhador. O governo Dutra, que serviu a um esforço de eliminar os trabalhadores da disputa política. Os ataques diuturnos a JK. A eleição de Janio e suas hipócritas vassourinhas, até sua renúncia, nove meses depois. A farsa de impedir a posse de Jango, a instituição de um parlamentarismo mequetrefe, rejeitado pelo povo. A campanha da legalidade liderada por Brizola. O golpe civil e militar de 1964, o mais emblemático, que jogou o Brasil em 21 anos de trevas, sempre em favor da elite tacanha que brota em Pindorama. A falsa abertura lenta, gradual e segura promovida pela própria ditadura, para garantir o poder da elite. A derrota do povo, mobilizado como nunca se vira, no episódio das diretas já. A eleição indireta de Tancredo e Sarney. O pseudo “centrão”, na verdade a direita mais atrasada, impedindo maiores avanços na constituinte. A fabricação de Collor apenas para derrotar Brizola e Lula e que, após sua utilidade cumprida, foi descartado. O governo de desmonte e lesa-pátria de FHC que é auto-explicável e condenável. Apesar de sempre usar o nome, a Casa Grande nunca foi afeita à democracia.

Parece longa a lista da história golpista, mas são apenas parte dos episódios. Cada um desses momentos, se detalhado, daria uma enciclopédia. Chegamos em 2016 com mais uma intentona golpista. Passados 194 anos da independência e 127 da república, que podem parecer muitos anos, mas são apenas um lapso de tempo do ponto vista histórico, os herdeiros da Casa Grande pretendem jogar o povo de volta às senzalas.

A Casa Grande sempre contra a democracia

Quase 14 anos se passaram desde que o primeiro operário, e depois a primeira mulher, foi eleito presidente numa ampla coalização que unia desde a esquerda até setores da direita, de sindicatos a parte expressiva do empresariado. Esses governos, com limitações, tibiezas, concessões e erros, começou a transformar a realidade da imensa maioria dos brasileiros, para melhor. Isso sem atacar a velha Casa Grande e seus lucros, mas apenas distribuindo uma parte da riqueza nacional ao povo que, afinal, é quem produz essa riqueza.

Mas a elite brasileira é uma jabuticaba. Talvez a única classe dominante em um país que jamais teve projeto próprio, que se contenta em ser subalterna, sócia minoritária, capacho das burguesias dos países centrais do capitalismo.

Mais que distribuição, os governos de Lula e Dilma fizeram algo extraordinário e que ainda deverá ser mais estudado e analisado. Elevaram a auto-estima do povo trabalhador, mostraram a milhões que um dos seus pode fazer, e faz, melhor que qualquer doutor, barão ou coronel. A Casa Grande jamais aceitaria isso. A elite brasileira prefere ganhar menos, mas ganhar sozinha, mantendo o povo nos grilhões, encarcerados nas senzalas, no silêncio absoluto. É a esse silêncio de cemitério que a tacanha burguesia brasileira chama de paz e união nacional.

A Casa Grande, e também a senzala, jamais foram demolidas. Convivemos com esse escárnio, fruto dos acordões e golpes promovidos pela elite. Essa mesma elite conseguiu uma força impressionante no Congresso Nacional na eleição de 2014, fruto direto das tais jornadas de junho de 2013. Esse arranjo colocou o segundo governo Dilma nas cordas desde o momento em que foi divulgado o resultado eleitoral. O governo é, desde então, sabotado e impedido de realizar o que foi eleito para fazer, governar. O circo foi armado para chegar a esse 17 de abril, não por acaso um domingo, com favas contadas, ou seja, colocar novamente a anacrônica Casa Grande no comando das rédeas do país.

“Há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”. Lenin

No entanto, a elite brasileira venera a arrogância e carece de inteligência. A Casa Grande conhece cada esquina de Miami, mas desconhece absolutamente o Brasil e seu povo trabalhador. O que avaliaram previamente ser mais um passeio tranquilo e favorável, como em outros momentos, mostrou-se uma avaliação totalmente equivocada. Ao atacar diretamente os governos de origem popular e sua maior expressão, o ex-presidente Lula, fizeram o povo trabalhador começar a se levantar. A elite retrógrada não contava que a senzala se movimentaria.

Esse momento despertou politização no seio do povo, de forma acelerada. Com isso, mesmo com a narrativa elitista, única, a partir das empresas do oligopólio midiático, ficou escancarado o que se promove no Brasil, um golpe, mais um, nada além disso. Mesmo que os conservadores, reacionários, gastem cada vez mais saliva para dizer que o golpe não é golpe, afinal, golpistas nunca se assumem como tal, a verdade é bastante clara. É um golpe com objetivo de encarcerar novamente o povo nas senzalas.

O desfecho do cerco que sofre a presidenta Dilma e a esquerda ainda é incerto. Esse 17 de abril, quando deputados bandidos, cujo símbolo é Eduardo Cunha, votarão o golpe falsamente legal é uma batalha das mais importantes, mas não será o fim da guerra, seja qual for o resultado. Ao que se vê, os golpistas não terão os 2/3 de votos necessários para o golpe, mas não significa que desistirão.

O que está cada vez mais escancarado é a velha conhecida luta de classes, o motor da história. É essa disputa, nas ruas, instituições, entidades populares e redes sociais que definirá o futuro do Brasil e dos brasileiros. A partir de segunda-feira abre-se nova etapa.

O povo trabalhador começou a se levantar, a desejar tomar seu próprio destino em suas mãos. A força desse movimento é crucial. As próximas horas e dias definirão se iniciaremos mais uma “ponte para o atraso” ou se avançaremos rumo a um país mais justo. Que o povo trabalhador e a justiça, tantas vezes solapados pela Casa Grande, tenham força e determinação para, desta vez, vencer a batalha. O futuro dos filhos deste solo depende disso. Cada um e cada uma são decisivos. Ninguém é menos importante. Cada coração, cada mente, é fundamental para a vitória.

Do fundo da alma, dos sentimentos, é necessária a convicção de que o povo sairá, desta vez, vitorioso. Sem cessar, lutemos. Lutemos por nossos filhos, por nossos irmãos, por nossos pais, por vizinhos e por desconhecidos, lutemos por nós mesmos. Sem cessar, lutemos. Venceremos.

#DilmaFica
#NãoVaiTerGolpe
#VemPraDemocracia

*Jefferson Tramontini é editor do blog Classista

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