Sobre a greve dos rodoviários em Florianópolis
J.
Tramontini*
Em
várias cidades brasileiras estão acontecendo manifestações com
relação ao transporte coletivo. Cada cidade com suas próprias
realidades e cada movimento com seus próprios interesses, alguns,
diga-se, não tão justos assim.
Mas
chama atenção o que acontece na cidade de Florianópolis, capital
de Santa Catarina. Naquela cidade o que acontece é uma greve dos
trabalhadores rodoviários, reivindicando melhores condições de
trabalho, de segurança e melhores salários. As negociações não
deram em nada e ao indicar a greve os trabalhadores, e seu sindicato,
foram imediatamente retaliados pela prefeitura e pelo judiciário. O
judiciário catarinense exigiu que 50% da frota de ônibus circulasse
em certos horários e 100% em horários de pico, sob pena de R$100
mil diários de multa. É bom salientar que 100% da frota não
circula nem mesmo em dias normais, pois há uma escala. Mais uma vez
é a caneta do juiz passando por cima da Constituição Federal,
impedindo e criminalizando o legítimo movimento dos trabalhadores.
Assembleia inicia a greve dos rodoviários da grande Florianópolis em 10/06. Foto: Jessé Giotti/RBS |
Mas
os rodoviários e seu sindicato (Sintraturb) ignoraram o papel do
judiciário e fazem, desde o dia 10/06, uma greve que paralisa
totalmente o transporte público de Florianópolis e região. O
prefeito César Souza Jr (PSD) rapidamente autorizou “vans” a
fazer o trabalho de lotação, com preços abusivos e condições
duvidosas. O prefeito e seu governo conservador tem aparecido em
espaços generosos nas TVs e jornais catarinenses a atacar o
sindicato e os trabalhadores. Em nenhum momento o prefeito César
Souza Jr (PSD) se dispôs a tentar resolver os problemas que levaram
à greve.
Florianópolis
já tem tarifas bastante elevadas para o transporte coletivo e o
sistema tem insuficiências gritantes. Com isso, o prefeito tem
tentado usar de um expediente grotesco, tem dito firmemente que a
tarifa não vai aumentar de jeito nenhum e que, por isso, não pode
atender os trabalhadores rodoviários, tentando jogar os usuários
contra os grevistas. O sindicato da categoria sempre se manifestou
contra o aumento das tarifas e contesta a planilha que os empresários
apresentam com tal alegação.
O
Sintraturb, com apoio de diversos outros movimentos e entidades,
lançou uma proposta interessante. Para resolver o problema que
aflige a população da capital catarinense e região o sindicato
propôs que, enquanto durasse o impasse, a frota de ônibus
circulasse normalmente porém, sem cobrança de tarifas, com catraca
livre.
A
proposta foi rechaçada, de imediato, pelo prefeito César Souza Jr
(PSD) e pelo judiciário catarinense. Isso prova que a prefeitura e o
Ministério Público, na verdade, não estão preocupados com as
necessidades dos habitantes de Florianópolis, mas sim com o lucro de
seus amigos empresários do transporte.
Na
noite de ontem (11/06), em assembleia, após chegarem a um acordo
sobre reajuste salarial e vale-alimentação, os rodoviários
decidiram retomar as atividades porém, mantendo o estado de greve,
pois ainda existem pendências importantes a serem solucionadas.
*Jefferson Tramontini é diretor do Sindicato dos Bancários do Ceará, membro
da Coordenação Nacional dos Bancários Classistas (CTB) e autor do
blog Classista
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